quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Confissões


Confissões

Por fora sou trevas
Devido à ausência da sua luz
Ou do seu sorriso tímido
Que tanto me agrada

Mas guardo você aqui dentro
Como um pirata esconde o tesouro
E muitas vezes não sei onde
Mas sei que está aqui em algum lugar

E se num gesto brando você exala amor
O seu doce canto embala meu pensamento
Em um tom suave de paixões infinitas

O brilho obscuro do seu olhar
Perfura e me pega pelas veias
E assim eu fluo você...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Lembranças


Lembranças

Conto cada minuto que se passa
Como o último suspiro da vida
Como se houvesse alegrias não vividas
Como se em tudo devesse existir graça

Pois o tempo não perdoa as marcas
As cicatrizes e feridas mantêm-se intensas
E ao final da vida a maior recompensa
É se conformar que o peito se encharca

De alegrias e tristezas infinitas
Viajo no tempo e me sinto criança
Lembro de estrofes que me foram ditas

O tempo não para e a vida avança
Mas meu peito tem fôlego e ainda grita
E a vida termina feita de lembranças


Ego


Ego

Já é manhã e ouço gritos pela rua
A realidade é só mais uma certeza
Certeza que a vida é muito estranha
Um dia se está bem e no outro é só tristeza

Aquela flor que você cultivou
Não ramifica uma nova geração
As pétalas se soltam com gritos de dor
Não conseguem mais manter os pés no chão

É tão triste ver no que o mundo se tornou
Vivemos às custas como parasitas
O goleiro não mais defende o gol
Defende apenas o que acredita

Espelhos ao redor, só refletem o egoísmo
Nada é tão perfeito quanto à imagem do próprio ser
Empurramo-nos todos para o abismo
E descobrimos que não temos nada perder

Retrato


Retrato

Ah, se não fosse o seu sorriso
Não saberia o chão em que piso
Ou escutaria tantas notas musicais

Não sei quando pouco é demais
Nem medir o bem que me faz
Sentir seu cheiro sem aviso

Dentro de mim corre o mundo
Desgosto por um mísero segundo
E então olho o seu retrato

Não entendo o sentimento abstrato
O qual basta eu te ver e já acato
Pra mergulhar em desejo profundo

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Circunlóquio


Circunlóquio

Nada quer dizer nada
Tudo, quase tudo
Quase quer dizer pouco
Aqui, lá, longe do mundo

Nada significa tudo
Tudo não quer dizer nada
Emergência tem mais que duas saídas
E a saída nenhuma entrada

Zero pode ser nulo
Um pode ser milhões
Dois continuará par
Dentro dos nossos corações

Números são apenas números
Palavras não possuem sentido
Sentimos tudo com a nossa alma
E o enredo é sempre repetido

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sutil


Sutil

Saiba antes de tudo te amei,
E doei-me quase dois terços.
Pés com pés e mão na razão
Marcas de amor cravadas em pele

Um quê de diamante bruto
Esperando ser lapidado
Calmo, quieto, inerte
Esperando, esperando esperando...

Fui carregado por torrentes
Não me lembro nomes ou cursos
Apenas me lembro que cheguei
E me senti completo em teu luar

Toda a sua luz me guiou nas trevas
E todo o seu carinho me acolheu no frio
Assim, sem mais nem menos, sem ao menos saber
Suave como uma brisa fez uma morada em mim...

Razão de Existência


Razão de Existência

Sou um pequeno grão de areia
Se comparado ao que penso
E nesta praia não mando
Fico ali, estático inoperante
Esperando o vento ou a água
Para ser levado a algum lugar
Mais profundo do existir

Assim, descobri ilhas
Que não estão em nenhum mapa
E via beleza do mundo com outros olhos
Porém, continuo um grão de areia
E tenho mais que o universo a desvendar

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Estalo


Estalo

Guarde estes versos como um templo
Não para adorar como faziam os gregos
E nem para orar como os sacerdotes
Mas sim para lembrar que há o abstrato
Para lavar a alma com a água da chuva
Purificando ainda mais seus pontos áureos

Arquiteto as palavras com cuidado
Tijolo por tijolo dando continuidade
Para que o acabamento seja feito em sua vida
E desta maneira, se não se encontrar
Ao menos dar-lhe um Norte
(Já que a vida é sem bússola)

Pavimento a semântica da rodovia poética
Para ser chão, atrito e conforto
Impulsionando assim as outras mentes
A buscarem seus próprios caminhos
E ponta a ponto nascer em poesias...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Liberdade e Desejo


Liberdade e Desejo

Era uma noite fria de inverno
Não me lembro rostos ou nomes
Mas seu perfume me limpava as narinas
E eu ofegante ostentava seu doce leito.

Suor e libido tomavam conta dos nossos corpos
Estávamos distantes da órbita do planeta
Como se o tempo tivesse parado
E o momento fosse único como a vida.

Os nossos sussurros ainda ecoam no ouvido
Me lembro de cada gemido de prazer e dor
Misturados com o sabor etílico em nossos lábios
O néctar de sua flor me chamou no instante em que
Parei para contemplar a dama da noite se abrindo
E num gesto suave me acolher no fruto pecado...

Foi uma noite de amor intenso e ainda não sei o seu nome
E no meu tato seu rosto era delicado como a rosa
E no tecido da sua pele, a seda perfumada em orquídeas
Foi tão transcendental que poderia virar música
Foi tão bom que poderia ser sonho
E foi tão real que poderia ser história...

Já faz tempo, mas passo madrugadas imaginando
Se eu a encontrarei outra vez para amadurecer a experiência
E se ocorrer, sei que a espera não será em vão
Pois será o dia em que eu finalmente estarei liberto...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Menor Distância


A Menor Distância

A distância é boa até certo ponto:
Pontua um vazio que preenche a saudade
Que de vasta imensidão oceânica
Pode se tornar um abundante córrego de alegria

Ao primeiro toque do vento
Fazer tempestadade em copo d'água
E na última brisa da vida
Inundar um coração de amor

A distância pouca é boa
Mas a maior é melhor
Porque sufoca o peito de tal maneira
Que é impossível esquecer
Tal qual o abraço de quem a encurta
O calor, a presença, os flashes
Tudo vem à tona em arranjos florais,
Acordes musicais e beijos afetuosos

A distância é boa, faz-nos refletir
Sobre o que realmente importa
E isso não aparece escrito em livros
Mas sim nos olhares pensativos
Das pessoas nas estações da vida.

Quanto maior a distância,
Maior a imensidão imensurável
Do alívio da dor aflita e ressentida
Que já pousou no coração de quem ama
E maior também é a certeza:
"- Estar vivo é bom..."

Lamentos de um Recém-perdido


Lamentos de um Recém-perdido

Poucas palavras, tão poucas, quase mudas...
Muitas decepções, tantas, quase todas...
Escrevendo aqui, linhas cegas, linhas surdas
Com visões que caem da minha boca

Onde eu me encontro perdido?
Onde eu me perco achado?
O poema lido e não lido
Com certeza me lembra um passado

A viagem é longa e incerta
Mas o tempo é rápido, inviolável
Na vida há muitas portas abertas

Porém nenhuma controlável
E se na escolha se acerta
Bem vindo a um mundo mais agradável

Indefinido


Indefinido

Não possuo traços precisos
São tão incertos quanto o dia de amanhã
Rabisco aqui e ali e moldo
Talvez uma ideia que não valha nada
Ou que se concretize em sonhos
Mas o simples existir já cumpre,
Sem delongas, sem planos,
Sem coerência, sem rumo:
Não possuo traços precisos...

Flama


Flama

Se o destino não nos unisse
Talvez o poeta estivesse morto em vida
O amor intenso e real que nos circunda
Não faria sentido algum
Até que a morte nos separe é pouco tempo,
Para nos conhecermos melhor
Precisaríamos morrer zilhões de vezes...
E assim, a Fênix pode renascer em cada canto
A cada hora, a cada minuto, a cada segundo
E trazer de volta um amor que não morre
Ao menos não como um todo
E fazê-lo renascer como uma chama mais profunda...

segunda-feira, 14 de março de 2011

Gramático


Gramático

Sou antes de tudo, interrogação
Porque exclamo porquês
Sem a mínima dúvida, pontuação
Sou ponto final sempre ao fim do mês

Com as vírgulas respiro o canto
E acentuo as notas há muito esquecidas
De palavra em palavra, sou página em branco
Uma alma vivida e nunca lida

Ora posso ser reticências...
"Ou pensantivo assim feito aspas"
Basta um único traço e sou essência

Acrescento um pingo e sou um basta!
Sigo em rimas fora de cadência
E assim a música torna-se vasta

Fração


Fração

Uma parte de mim vaga
Pelo simples ato de vagar
Devagar assim eu sigo
E não consigo chegar

Outra parte de mim corre
Por medo ou desespero do fim
Será que não sabe, a cada vez que morre,
Morre também um pedaço de mim?

Cada vez mais constante
Um pedaço de mim vai embora
Enquanto o vazio no peito chora
Sigo sorrindo pela estrada, errante...

O beija-flor deixou a rosa
O espinho se fere à deriva
O suor e o sangue em carne viva
Deixa a lágrima mais saudosa

E a lágrima da saudade corta
Como faca cega em noite de inverno
Com sangue da alma, escrevo no caderno
O que restou da minha ideia morta

Se eu ajunto cada fragmento
Talvez descubra mais um pouco de mim
Não possuo começo, meio ou fim
Mas tenho infinitos belos momentos

E todos se resumem a você no meu pensamento

terça-feira, 1 de março de 2011

Manual


Manual

Às vezes me sinto como a chuva
Feliz para alguns, triste para outros
E de gota em gota preencho o papel
Não porque algo bom sairá
Mas sim simplesmente sairá algo
Que está além da minha compreensão
E assim vou regando as plantas
Talvez uma semente vire uma bela árvore
Mas o trabalho não para
Às vezes sou aquela chuva
Que deixa o ser humano mais próximo
Pois todos querem cobertura
Pelo menos aqueles que não vivem a vida
Da maneira que todos devíamos
E assim encerra o pensamento
Vai embora no primeiro raio de sol
Ou no último vento...

Humanidade


Humanidade

Estive sentado na praça olhando os pombos
"Coitados! Vivem procurando alimento
Às vezes encontram e fazem festa
Mas aí chega alguém e os dispersa;
Os pombos voam e não sabem aonde ir..."

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Relógio Poético


Relógio Poético

Agora é hora
Ora sim, ora não
Talvez apenas seja
Sem fatores do tempo
Assim no infinitivo
Onde pretérito, presente e futuro não importam
Ser, estar, viver, morrer
Todos os verbos têm um sentido eterno assim
E o tempo é apenas bobagem
O que realmente conta é o agora
O agora não morre
Vira passado, mas outro agora vem
E por isso é atemporal
Assim como todos os tempos verbais
E todo o tempo do mundo
Afinal, ontem já foi amanhã
E hoje será ontem
Não importa o tempo
O que importa é saber usar
Ler e escrever e sentir
Assim a memória não se esgota
E o tempo, nunca passa...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Eu Não Te Amo


Eu Não Te Amo

Eu não te amo
Foi tudo uma mentira,
Inventada para alimentar o ego
E ficar mais seguro de mim
Sim, eu não presto!
Não acredito em amor à primeira vista
Acredito apenas em algo
Que não sei bem o que é
E acredito que você também não
E por isso eu digo: eu não te amo
Eu sei que é duro saber
Esta realidade de TV não é nossa
Pode ser que algo real e imenso esteja lá
Mas cá entre nós, o que poderia ser?
Voltei às minhas dúvidas
Sem enfim perguntar
E a sua resposta com um olhar já me basta
Assim terei certeza que não te amo
Mas que vivo com intensa chama
Que acende em meu peito quando estou com você
Você me diz que isso é amor
E eu te pergunto: Será?
 
Tweet